Enquanto discute reduzir pena de golpistas, Câmara pode cassar Glauber Braga nesta quarta
Por: Luciana Araujo

Na mesma semana em que reverteu prisão, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, de um deputado estadual acusado de crimes no Rio de Janeiro, o Centrão pautará no Plenário da Câmara dos Deputados a cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL/RJ).
O deputado psolista enfrenta processo por ter se envolvido numa briga dentro da Câmara dos Deputados com um videomaker de extrema direita que ofendera sua mãe, então internada e que foi a óbito na mesma semana do confronto.
O que evidencia a perseguição a Glauber é que a votação no Plenário da Câmara, prevista para acontecer nesta quarta-feira (10 de dezembro), acontecerá na mesma semana em que o presidente do Legislativo do Rio de Janeiro foi afastado do cargo pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e submetido ao uso de tornozeleira eletrônica, após ter sua prisão revertida por colegas do Centrão.
Liberdade para associado ao tráfico e cassação de Glauber
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Rodrigo Bacellar (União), foi detido por suspeição de informar ao ex-colega Thiego Santos TH Jóias (MDB) sobre operação policial que o investigava e orientá-lo a destruir provas. TH Jóias foi indiciado por associação com facção criminosa e ao tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção. Preso em setembro deste ano, teve o mandato cassado após a Alerj passar semanas nas páginas policiais.
O Centrão que ameaça cassar o mandato de Glauber Braga é composto pelas legendas PP, PL, Podemos, PROS, PSD, PTB, Republicanos, Solidariedade, Avante e Patriota. Bacellar teve a prisão revertida nesta segunda-feira (08) com 42 votos de deputados e deputadas do PL, PP, União, Republicanos, Solidariedade, Podemos, Avante, Agir, PSD, PMN, PMB, PDT, PRD e da deputada Carla Machado (PT).
Nesta terça, Moraes determinou o cumprimento da decisão do legislativo fluminense e soltura de Bacellar, com afastamento da presidência da Alerj, uso de tornozeleira eletrônica, suspensão de porte de arma de fogo, entrega de passaportes e proibição de se comunicar com outros investigados.
Glauber é colocado 'no mesmo saco' de golpistas
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), colocou na pauta os processos de Glauber, junto com os de Alexandre Ramagem, Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro. E na mesma data em que também pautou o projeto de lei que substituiu o desmoralizado PL da Anistia aos golpistas. Agora chamado de PL da Dosimetria, o texto anistia os participantes das manifestações e pode reduzir a apenas dois anos o cumprimento de pena em regime fechado do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão com início da pena em regime fechado.
Ramagem foi condenado a 16 anos e um mês de prisão por sua participação na tentativa do golpe de 08 de janeiro de 2023. Zambelli foi condenada pelo STF há 10 anos de prisão por invasão dos sistemas e adulteração de documentos do CNJ. Eduardo Bolsonaro está fora do país desde fevereiro, tendo extrapolado em muito o limite de um terço das sessões de votação às quais um deputado pode faltar, de acordo com o Regimento da Câmara.
A diretoria do Sindicato repudia o que classifica como "perseguição intransigente" a deputado que sempre votou a favor e de trabalhadoras e trabalhadores do setor público e da iniciativa privada. A marca da atuação de Glauber é também a denúncia frequente dos ataques do parlamento a direitos e corrupção por parte de outros deputados, o que parece ser a verdadeira causa das tentativas de tirar seu mandato.
Violência contra a imprensa
Motta também é chamado a responder pela determinação do corte de sinal da TV Câmara, nesta terça-feira, e a expulsão de jornalistas e cinegrafistas de veículos comerciais do Plenário, para impedir a cobertura de protesto de Glauber contra a cassação. O deputado ocupou a cadeira do presidente da Casa e, logo depois, a transmissão da TV pública foi tirada do ar e jornalistas expulsos, em flagrante violação à prerrogativa constitucional de exercício do jornalismo. Após críticas da mídia, o presidente do Legislativo disse não ter dado as ordens, mas sua assessoria havia confirmado às Organizações Globo que as determinações vinham do comando da Casa.




