Israel intercepta flotilha humanitária e sequestra ativistas em águas internacionais
Por: Jeferson Choma

Israel intercepta Marinha do Estado de Israel interceptou, na madrugada dos dias 1° e 2 de outubro, as embarcações da Flotilha Global Sumud (FGS), que navegavam rumo a Gaza na tentativa de romper o bloqueio israelense e abrir um corredor humanitário na região. A flotilha era composta por 51 embarcações e mais de 500 ativistas de aproximadamente 40 nacionalidades. Entre estes, estavam 14 brasileiros. Os ativistas e tripulantes levavam medicamentos, filtros, próteses, entre outros suprimentos de primeira necessidade.
Apesar da interceptação, pela primeira vez desde 2008, o barco Mikeno da Flotilha conseguiu romper o cerco ilegal de Israel e adentrar as águas palestinas na Faixa de Gaza, mas foi capturado em seguida. Vídeos publicados por moradores de Gaza mostram que o barco chegou a ser avistado das praias.
A missão humanitária e pacífica tinha respaldo legal perante as leis internacionais, e vários países, assim como a ONU, exigiram a livre passagem da flotilha e sua chegada em segurança a Gaza. Por isso, os integrantes da flotilha acusam a ilegalidade da ação de Israel, que se deu em águas internacionais, sequestrando os ativistas e os levando para a prisão israelense de Ashdod. Entre eles, estão a ativista Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila, porta-voz da missão.
Entre os brasileiros sequestrados por Israel estão Magno Costa e Bruno Gilga, representantes do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e da CSP-Conlutas; Mariana Conti, vereadora do PSOL em Campinas; Luizianne Lins, deputada federal pelo PT; e Mohamad El Kadri, presidente do Fórum Latino-Palestino e coordenador da Frente Palestina de São Paulo (leia a lista completa abaixo).
Além disso, a organização da Global Sumud Flotilha denunciou que dois ativistas brasileiros, João Aguiar e Miguel de Castro, permanecem desaparecidos e incomunicáveis desde o dia 1º. Segundo Lara Souza, coordenadora da delegação brasileira da Flotilha, as autoridades israelenses, até agora, não confirmaram oficialmente se os dois ativistas estão nas prisões do país.
Há meses, Israel bloqueia a entrada de ajuda humanitária em Gaza, submetendo sua população à fome e à miséria extremas, enquanto provoca deslocamentos forçados, bombardeia e destrói toda a infraestrutura do território. No dia 16 de setembro, o relatório da comissão de investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que Israel cometeu genocídio contra palestinos em Gaza.
Pressionados por enormes mobilizações de solidariedade à Flotilha Sumud, os governos da Espanha, Turquia e Itália anunciaram o envio de embarcações militares e da Cruz Vermelha para escoltar os ativistas. Contudo, a ação se revelou inútil quando as escoltas se recusaram a cruzar o limite imposto por Israel a 150 milhas náuticas da Faixa de Gaza. Vale lembrar que, ao longo do trajeto, a flotilha já havia sido alvo de drones, como na costa da Tunísia, e teve, por diversas vezes, a comunicação bloqueada por dispositivos eletrônicos.
Manifesto das centrais sindicais
No dia 2 de outubro, dez centrais sindicais brasileiras, entre elas a CSP-Conlutas, lançaram uma nota conjunta que repudia a ação criminosa de Israel. De acordo com a nota:
“O genocídio explícito em Gaza horroriza e envergonha a humanidade. A opinião pública mundial se mostra cada vez mais revoltada diante das ações covardes e desproporcionais do governo de Israel contra o povo palestino. Conclamamos nossas organizações sindicais e populares a promover manifestações e protestos em todo o país, exigindo a imediata e incondicional libertação dos sequestrados. Conclamamos também o governo brasileiro a tomar medidas para proteger a vida dos brasileiros envolvidos e romper relações com o Estado de Israel”.
Pressão pela ruptura de relações com Israel aumenta
O sequestro dos ativistas brasileiros também aumenta a pressão sobre o governo brasileiro para romper as relações comerciais e diplomáticas com Israel. Em junho, foi divulgado um relatório da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que mostrou um aumento de 51% na exportação de petróleo em 2024, comparado com 2023. Além disso, o Brasil é destino de armas produzidas em Israel, que vão parar nas mãos de polícias de muitos estados, como São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Amazonas, Bahia, entre outros.
“É preciso exigir a libertação imediata dos presos pelo Estado de Israel. Precisamos, desde o Brasil, que o governo Lula imponha sanções a Israel e rompa imediatamente relações com o Estado genocida, com embargo militar, econômico e energético pleno. Que saia do Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul e Israel, que nunca deveria ter existido”, explica Soraya Misleh, coordenadora da Frente Palestina de São Paulo.
Protestos e solidariedade internacional
O sequestro ilegal de ativistas da flotilha está provocando mobilizações massivas em várias partes do mundo. Grandes manifestações foram registradas na Itália, Alemanha, França, Grécia, Turquia, Bélgica, Argentina e várias outras capitais. No próximo final de semana, são esperadas manifestações ainda maiores contra o genocídio em Gaza em todos os continentes.
Neste dia 3, uma forte greve geral é realizada na Itália, chamada pela Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), maior central sindical do país.
“O ataque a embarcações civis que transportavam cidadãos italianos representa um assunto extremamente grave. É um golpe à própria ordem constitucional que impede a ação humanitária e a solidariedade com a população palestina, submetida pelo governo israelense a uma verdadeira operação de genocídio. É um ataque direto à segurança dos trabalhadores e voluntários a bordo. Não é apenas um crime contra pessoas indefesas, mas também é grave que o governo italiano tenha abandonado trabalhadores italianos em águas internacionais, violando nossos princípios constitucionais”, denuncia o manifesto de convocação da CGIL.
Em São Paulo: 5 de outubro, todos às ruas pela Palestina
Em todo o país, inúmeros atos foram realizados após o sequestro da tripulação da Flotilha, e muitos outros estão marcados para o próximo final de semana.
Na capital paulista, a Frente Palestina de São Paulo está convocando um grande ato para o dia 5 de outubro, às 11h, em frente ao Masp, na Avenida Paulista. De lá, a manifestação seguirá em passeata até a Praça Roosevelt.
“Não permitiremos mais a impunidade daqueles que há décadas cometem crimes de guerra e contra a humanidade! Não aceitaremos mais que nossos governos sigam coniventes e cúmplices, seja por envolvimento direto ou por falta de ações concretas. Os trabalhadores na Europa e os estudantes aqui no Brasil também estão mandando o recado: paremos tudo para parar o genocídio!”, afirma nota da Frente Palestina.
Saiba quem são os brasileiros sequestrados por Israel
- Thiago Ávila, ativista e integrante do Comitê Diretor da Global Sumud Flotilha, no barco Alma
- Luizianne Lins, deputada federal pelo PT, no barco Grand Blue
- Bruno Gilga, trabalhador da USP e correspondente do Esquerda Diário, no barco Sirius
- Lisiane Proença, viajante, comunicadora popular e atuante em causas socioambientais, no barco Sirius
- Magno Costa, integrante da Executiva Nacional da CSP-Conlutas e diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, no barco Sirius
- Mariana Conti, vereadora do PSOL em Campinas, no barco Sirius
- Nicolas Calabrese, professor de educação física e coordenador da Rede Emancipa, no barco Sirius
- Gabriele Tolotti, presidente do PSOL-RS, no barco The Spectre
- Mohamad El Kadri, presidente do Fórum Latino-Palestino e coordenador da Frente Palestina de São Paulo, no barco The Spectre
- Ariadne Telles, advogada popular, no barco Adara
- Mansur Peixoto, criador e administrador do projeto História Islâmica, no barco Adara
- Lucas Gusmão, ativista e internacionalista, no barco Yulara
- João Aguiar, ativista do movimento global para Gaza e Núcleo Palestina do PT-SP, no veleiro Mikeno
- Miguel de Castro, ativista e cineasta, no barco Catalina