Repúdio à PEC da bandidagem e à anistia para golpistas levou milhares às ruas neste dia 21
Por: Luciana Araujo

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal sentiram neste domingo o risco que correm os parlamentares que se mantiverem associados à votação da anistia para os golpistas de 08 de janeiro de 2023 e à proposta de emenda constitucional 03/2021 (chamada em todo o país de PEC da bandidagem por proibir investigações contra parlamentares sem autorização dos pares). Aconteceram atos nas 26 capitais e em Brasília, e manifestações em cidades como Franca (SP) e Volta Redonda (RJ). Além de protestos organizados por brasileiros e brasileiras que vivem em ao menos três capitais de países europeus: Londres (Inglaterra), Lisboa (Portugal), Berlim (Alemanha).
Somadas as estimativas divulgadas nas mídias locais com base em dados das organizações ou de institutos de pesquisa, é possível afirmar que cerca de meio milhão de brasileiras e brasileiros foram às ruas.
Além da participação massiva nos protestos, pesquisa Datafolha já identificou que 54% da população é contra a anistia a quem se envolveu ou comandou o processo que desaguou na destruição das sedes dos três poderes naquele 08 de janeiro.
Em São Paulo e em Brasília, servidores da categoria e dirigentes do Sindicato estiveram nas manifestações. A diretora do Sindicato Rosana Nanartonis, que participou do ato em na capital federal, avaliou positivamente a manifestação no coração do poder, nas cercanias do Congresso Nacional que voltará a se debruçar sobre a PEC da bandidagem nesta semana.
"Foi muito vitorioso. Uma resposta do povo mesmo para parar os desmandos no Congresso. Inclusive porque não foi um ato só de artistas, o povo foi às ruas mesmo", disse Rosana, que junto com Ciro Manzano, Isabella Leal, Camila Oliveira e a servidora Priscila Florêncio participou do protesto na capital federal porque estavam no Encontro de Servidoras e Servidores com Deficiência da Fenajufe e em atividades da Auditoria Cidadã da Dívida.
"A indignação com um Congresso que negligencia a pauta do fim da escala 6x1 e redução do imposto de renda, para votar a PEC da impunidade e bandidagem e a anistia para golpista, levou o povo às ruas de todo o Brasil. O trabalhador deu seu recado: soberania é direito pro povo que trabalha e constrói esse país", disse à reportagem Camila Oliveira, servidora do TRT-2 e também dirigente do Sintrajud.
Já nesta segunda-feira (22), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos/PB), que dirigiu a manobra regimental que fez acontecerem em menos de 24 horas os dois turnos de votação da PEC, disse durante um evento organizado por bancos e o mercado financeiro na capital paulista que "é o momento de tirar da frente todas essas pautas tóxicas".
Hugo também colocou na semana passada em tramitação em regime de urgência o projeto de lei (PL) 2162/2023 - que assegura anistia a todos os envolvidos em crimes contra o Estado democrático de direito desde 30 de outubro de 2022 até a aprovação da norma, com o ex-presidente da Força Sindical, deputado Paulinho (Solidariedade/SP) como relator. O texto é de autoria do deputado Marcelo Crivella (Republicanos/RJ), condenado pela Justiça Eleitoral à cassação do mandato em 2023 por abuso de poder e autoridade e conduta vedada a agente público, no escândalo que ficou conhecido como o caso dos "guardiões do Crivella" (que impediam a entrada de equipes de reportagem em unidades de saúde no Rio quando o pastor foi prefeito daquela cidade). Crivella recorre do processo e continua a exercer o mandato, e seria um dos beneficiários da PEC 03/2021.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brawsil/AP) já sinalizou que vai barrar a PEC da vergonha na Casa Legislativa que comanda.
Como servidores e servidoras avaliaram o ato
'Aqui em São Paulo a manifestação foi grandiosa. Fazia algum tempo que eu não via tanta gente na Paulista. Eu fui de metrô, e já quando o pessoal descia ali na estação Consolação já gritando "sem anistia" e contagiava muito. O pessoal já saía do Metrô se manifestando para chegar ao ato. Havia muitos cartazes contra a escala 6x1, a Flávia (da CSP-Conlutas) estava distribuindo adesivos de solidariedade à Palestina e todo mundo pegou", disse Raquel Morel Gonzaga, servidora do TRE-SP e diretora de base, à esquerda na foto.
"O ato foi gigantesco. Desde as manifestações do "Ele não" eu acho que não havia atos tão grandes nas ruas. A população atendeu ao chamado. Não podemos parar essa mobilização. Temos que aproveitar esse momento para tentar impedir que passe a boiada", frisou Luciana Carneiro, dirigente da Fenajufe e servidora do TRF-3, de óculos escuros.
"Amei. Lavamos a alma. Foi uma alegria perceber que nem tudo está perdido apesar de tantas afrontas por parte de parlamentares inescrupulosos", disse a aposentada do TRE-SP e ex-dirigente do Sintrajud Ana Maria Fevereiro, de cabelos avermelhados.
"Fiquei surpreso e feliz com tanta gente na rua, depois de tanto tempo sem mobilização dos trabalhadores. Que sirva de combustível para as próximas lutas, como o fim da escala 6x1 e a isenção do imposto renda", Eleilson da Costa Rodrigues, servidor do TRT-2, de camiseta vermelha.
"Muito bom! Ato suprapartidário, com foco na [luta contra a] corrupção dos congressistas e contra a anistia aos golpistas", Carlos Messias, servidor aposentado do TRE-SP, de bonè.
"Foi um ato muito grande. Consegui chegar perto do carro de som o Chico César estava terminando a apresentação dele e as pessoas estavam muito animadas.
Tinha muitos jovens. Foi muito vitorioso. Uma resposta do povo mesmo para parar os desmandos no Congresso. Inclusive porque não foi um ato só de artistas, o povo foi às ruas mesmo", Rosana Nanartonis, servidora aposentada do TRE-SP e dirigente do Sintrajud.