Atividade promovida por coletivos do Sintrajud destacou peso do racismo para a negação de direitos a mulheres, LGBTs e PCDs
Por: Luciana Araujo

Atividade que reuniu coletivos de Mulheres, Pessoas com Deficiência, Negras e Negros e LGBTs no último dia 26 de novembro debateu como o capitalismo se apropria das condições de raça, gênero, sexualidade, idade e/ou impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial para potencializar a exploração do conjunto da classe e limitar o acesso a direitos.
"A gente precisa reconhecer as violências, todos os tipos de preconceito, para que a gente possa, além de nos defender, defender as nossas e os nossos. Como diz Angela Davis, 'não basta não ser racista, é preciso ser antirracista', frisou a dirigente da Federação nacional da categoria eleita pelo Coletivo LutaFenajufe para representar o estado de São Paulo, Luciana Carneiro.
"É muito importante que a gente compreenda os limites do Direito. A conquista do reconhecimento do direito de greve, por exemplo, também deu ao Judiciário o poder de dizer que greve é legal e limitar a legalidade a greves econômicas. Por isso, quando a gente fala de luta feminista negra é muito importante, para além da discussão e disputa dos espaços institucionais, dentro dos tribunais, nas ações judiciais, compreender que a gente precisa falar de organização coletiva", apontou a advogada Letícia Chagas.
Integrante do mandato coletivo de deputadas estaduais Pretas e mestranda na Faculdade de Direito da USP, a palestrante também destacou que é fundamental a perspectiva interseccional para compreender os desafios da luta contra as opressões. "Sobretudo num governo que se diz de esquerda, que utiliza nossas pautas, mas que ao fim e ao cabo tem imposto sobre nós pautas que são muito insuficientes para as nossas necessidades. Por exemplo, quando o presidente Lula se nega a nomear uma mulher negra para o Supremo isso não é um crime, mas é parte de uma concepção estruturalmente racista", completou.
Neon Cunha - publicitária, servidora do município de São Bernardo do Campo e ativista trans independente - frisou que "durante muito tempo as mulheres negras não eram sequer consideradas trabalhadoras. As trabalhadoras domésticas não eram consideradas trabalhadoras. Isso também é um processo didático de exclusão que o Brasil manteve", frisou.
Neon ainda destacou o quanto o racismo está entranhado no arcabouço institucional da sociedade brasileira, o que o STF negou durante o julgamento da ADPF 973, na semana passada, quando o plenário reconheceu apenas o racismo estrutural, mas não o que permeia as instituições. "Basta a gente olhar a Constituição Federal e ver quantas vezes aparece a palavra 'negro', em detrimento de outras categorias, como pessoas com deficiência, pessoas idosas, população indígena", realçou.
"Importante trazer para nossas reflexões também as mães vítimas do Estado, como nas chacinas de Osasco e Barueri, Mães de Maio, Manguinhos [RJ], Carandiru, agora 122 jovens mortos [nos Complexos do Alemão e Penha, no RJ]. A gente não viu comoção nacional quando Luana Barbosa foi assassinada, mesmo a gente estando falando de um feminicídio e lesbocídio. Ou quando da morte de Cláudia Ferreira da Silva, arrastada por uma viatura", completou a palestrante.
Diretora do Sindicato, Ana Luiza de Figueiredo abordou o fato de que "estamos vivendo um momento do sistema capitalista que a minha geração não viveu, que nunca vimos antes. Já vivemos duas grandes guerras mundiais e muitas crises desse sistema, mas estamos vivendo agora uma situação terrível porque, somada à pobreza e todo tipo de opressão e discriminação temos também agora a situação do clima que também reflete mais diretamente sobre a população mais pobre, mulheres negras principalmente".
Camila Oliveira, também dirigente do Sintrajud, abordou o racismo regional, que também é muito forte no país, especialmente de pessoas sudestinas e sulistas contra populações das regiões Norte e Nordeste. "Como vamos racializar uma população muito miscigenada por um projeto do Estado e não racializamos as pessoas brancas? Eu sou da Bahia, e sempre tive uma vida de uma pessoa branca no Brasil, e nunca sofri preconceito até chegar em São Paulo. E tenho uma amiga parda que foi reprovada em uma banca de heteroidentificação em Goiás e aprovada aqui em São Paulo pelas cotas. A falta de parâmetros nacionais e a apropriação desse tema também dificultam muito o enfrentamento e tentam desviar a atenção do racismo".
Isabella Leal, outra diretora do Sindicato, lembrou "que as mulheres pretas com deficiência são as que mais sofrem violência".
O debate marcou as iniciativas do Sintrajud nos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres e pela consciência negra, e encerrou o calendário de atividades dos coletivos do Sindicato que combatem as opressões. Interessadas e interessados em participar devem acompanhar as divulgações nas mídias da entidade ou podem enviar e-mail manifestando interesse para sintrajud@sintrajud.org.br.




