NOTICIAS27/11/2025

Servidoras de São Paulo avaliam participação no 3º Encontro de Negros e Negras da Fenajufe e na Marcha das Mulheres Negras

Por: Luciana Araujo
Para representantes do Sintrajud, espaços fortaleceram iniciativas de enfrentamento ao racismo no Judiciário e na sociedade em geral, mas evento da Federação reproduziu sistema de dominação branca e racismo.
Luciana Barrozo, de amarelo, durante os debates do Encontro da Fenajufe. Arquivo Sintrajud
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Entre os dias 22 e 23 deste mês, uma delegação de seis sindicalizados/as representou o Sintrajud no 3º Encontro Nacional do Coletivo de Pretas da Fenajufe. Participaram os/as servidores/as do TRT-2, Ariene Duarte, Luciana Barrozo e Filipe Mafalda, o servidor do TRE e diretor de base Geremias Oliveira, a também diretora de base e servidora do CECALC/JEF Maria Ires Graciano Lacerda e o servidor aposentado do TRF-3 Geraldo Forte.

"Foi um Encontro muito potente. Conseguimos avançar na alteração do regimento para incluir a mudança de nome do Coletivo, que passa a contemplar pessoas indígenas e quilombolas, tal qual a regulamentação do CNJ, e para avançarmos nas discussões sobre como servidores públicos negros podemos participar nos espaços que já existem no Judiciário pensando equidade racial, como o Fonaer [Fórum Nacional do Poder Judiciário para a Equidade Racial] e o Encontro da Magistratura Negra", avalia Luciana Barrozo, que integra a coordenação do Coletivo de Negras e Negros do Sintrajud.

Para Ariene Duarte, que participou pela primeira vez de um encontro nacional do coletivo antirracista da categoria, "foi muito importante ter participado, ter tido essa oportunidade de integração e aquilombamento junto dos colegas que compõem o Coletivo de Negras e Negros do Sintrajud, que também conseguiu exercer um protagonismo muito importante, tanto na construção de propostas como nos debates. Faço uma avaliação muito positiva da nossa participação no Encontro e na Marcha de Mulheres Negras".

Racismo e capacitismo na Fenajufe

Apesar da importância política do Encontro, representantes da delegação de São Paulo denunciam a reprodução do racismo durante o evento e na organização do segmento dentro da Federação. "A coordenadora branca agiu como uma verdadeira sinhá, tentando ensinar às pessoas negras como devemos nos comportar nos nossos próprios espaços, dominando totalmente a condução do evento e ofendendo as pessoas negras que tentaram apontar que ela coordenar a mesa naquele contexto a colocava numa posição de opressora diante de todo o Coletivo", critica Luciana Barrozo.

A coordenação a cargo de uma pessoa branca tirou dos/as participantes negros/as o protagonismo e autonomia para organização da luta antirracista no Judiciário. Constrangimento similar já tinha ocorrido no Encontro de Servidores/as com Deficiência, cujas coordenações de mesas não tinham nenhuma mulher e nenhuma pessoa com deficiência até serem questionadas.

"Foi um momento de tensão e embate político e conceitual, porque temos muitas pessoas negras, sindicalizadas, com vários anos de militância, que não conseguem ascender aos espaços de protagonismo de coordenação de uma mesa porque a branquitude tenta nos manter colonizados, domesticados, quietos, submissos às posições de poder das quais eles não abrem mão. A majoritária da Fenajufe tem mantido esse lugar de dominação branca dentro de um coletivo de pessoas negras, e isso é muito ruim. Enfraquece o movimento, afasta pessoas negras com vários anos de militância e conhecimento da questão racial, dificultando e atrasando a luta por equidade racial no Judiciário", aponta Luciana.

Marcha potente

Sobre 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras a Brasília, que reuniu 300 mil pessoas na capital federal no último dia 25, Luciana considera que a "foi muito importante para as mulheres negras de todo o Brasil. Nós, servidoras públicas negras, precisamos estar mais organizadas para se reconhecer e se colocar nesses espaços como um grupo, fortalecendo a cada uma de nós.

Luciana Carneiro, dirigente da Federação eleita pelo Coletivo LutaFenajufe, concorda com as críticas pontuadas pela delegação paulista. "Chegou a haver um bate-boca com uma palestrante do Rio Grande do Sul e voltar as costas para o plenário e reclamar das pessoas negras que estavam ali, afirmando que como mulher ela teria o direito de estar onde quisesse". Da mesma forma, a diretora da Fenajufe avalia que a Marcha das Mulheres Negras "cumpriu um papel fundamental, foi linda e muito fortalecedora".

Delegação do Sintrajud na Marcha das Mulheres Negras