Debate do Coletivo do Sindicato sobre machismo e espaços de poder mobiliza mulheres e homens
Por: Luciana Araujo

O Coletivo de Mulheres do Sintrajud - Mara Helena dos Reis realizou nesta quarta-feira (22 de outubro) o debate "Machismo como forma de exclusão das mulheres dos espaços de poder e decisão". A atividade aconteceu em formato on-line e reuniu mulheres e homens de todos os ramos e até de alguns outros estados, como o Ceará e Piauí, com uma palestra da socióloga Bianca Briguglio. Pesquisadora sobre a divisão sexual do trabalho, relações de gênero e relações sociais de sexo, Bianca é mestra e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora de Cozinha é lugar de mulher? A divisão sexual do trabalho em cozinhas profissionais, a convidada estruturou sua fala a partir da perspectiva que "o trabalho organiza as relações sociais e de poder, produz, reproduz e revela as desigualdades que são históricas e culturais, são processos que se realizaram ao longo do tempo".
Mas frisou que "apesar das dificuldades, a presença feminina promove mudança de normas e práticas nesses espaços [de trabalho e/ou poder]".
A classe une e o gênero divide
A reprodução do machismo inclusive nos espaços sindicais também foi abordada, com várias mulheres relatando situações em que ideias e propostas apresentadas por elas são desconsideradas e rapidamente exaltadas quando repetidas por um homem, desqualificações de opiniões, piadas jocosas, uso de memes (também usados para falar sobre LGBTs, e nunca com homens).
"Hoje, principalmente as mulheres que assumem o papel de dirigentes, não vamos mais aceitar sermos colocadas nessas caixinhas, que um cara venha nos explicar o que eu sei", frisou Isabella Leal.
Entre as tarefas colocadas para os dirigentes e militantes homens, Bianca ressaltou a importância de rebater atitudes machistas de outros homens, não tentarem ensinar o feminismo às mulheres, ressaltarem a importância de direitos conquistados como o pagamento de pensão alimentícia.
Além do machismo, o racismo
A perspectiva racial foi trazida ao debate por duas das participantes. A dirigente do Sintrajud Ana Luiza de Figueiredo frisou que "a opressão contra as mulheres, os negros, os doentes, os idosos, as pessoas com deficiência é uma necessidade do capitalismo, mas dentro da nossa classe temos que combater o machismo que nos coloca muitas vezes uns contra os outros e umas contra as outras, pois muitas vezes essa ideologia vai sendo incorporada por nós mulheres".
Madalena Nunes, servidora da Justiça Federal no Piauí, lembrou que quando se discute o lugar do trabalho, na vida das mulheres negras ele tem lugar ainda mais central, pois essas mulheres disputaram lugar no mundo do trabalho ou no espaço público, sendo exploradas e violentadas tanto quanto os homens especialmente no período do escravismo e hoje sendo maioria dos índices de exclusão e violência.
"Nós sempre trabalhamos, nascemos trabalhando. Tanto é que a marcha das mulheres negras está trazendo o tema da reparação e bem viver, porque é preciso reparar o que nos tiram, inclusive nossas vidas, como vemos nos casos de feminicídios", apontou a servidora da Justiça Federal no Piauí.
No Judiciário Federal, o papel sistêmico do uso da condição racial para melhor dividir e explorar a classe. De acordo com Diagnóstico Étnico-Racial no Poder Judiciário publicado pelo Conselho Nacional de Justiça em 2023, quando o estudo foi realizado 29,1% da magistratura e 21% dos servidores não informavam raça/cor em suas fichas funcionais. Por outro lado, apenas 14,5% dos juízes e 29,1% dos servidores se declararam negros e negras. Na sociedade brasileira a população negra soma 55,5% (45,3% pardos e 10,2% pretos).
Esta realidade torna a vida das mulheres negras servidoras deste Poder ainda mais difícil. São mais questionadas, têm que se provar mais. Muitas vezes quando assumem postos de chefia encontram dificuldades da equipe em receber tarefas e coordenação por parte de uma mulher negra.
"No caso das mulheres negras é maior ainda essa barreira, porque a construção social do lugar dessas mulheres não é do escritório, do lugar de poder", concordou Bianca, que também enfatizou que "hoje a gente entende que essas três lutas não se dissociam. A gente só vai vencer a luta de classes com as mulheres, negros, as pessoas com deficiência, os indígenas", concluiu Bianca.




