NOTICIAS13/10/2025

Sintrajud participou da 1ª Conferência sobre IA com direitos sociais

Por: Luciana Araujo
Evento abordou desafios do mundo do trabalho para adaptação aos avanços tecnológicos sem perda de direitos; Sindicato seguirá realizando esse debate com a categoria.
Plenário do primeiro dia da Conferência. Arquivo Sintrajud
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Os dirigentes do Sindicato Ciro Manzano e Cléber Borges Aguiar participaram da 1ª Conferência Nacional sobre Inteligência Artificial e Direitos Sociais, nos dias 02 e 03 de outubro. O evento aconteceu no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e na Universidade Federal daquela região da Grande São Paulo, e foi organizado pela Frente Inteligência Artificial com Direitos Sociais e o Instituto Nacional IA com Direitos Sociais (INIADS).

"Os debates mais importantes que se colocam é como nós, a classe operária, podemos dominar e não sermos dominados pela tecnologia e a necessidade de brigar, lutar pela soberania dos dados", relata Ciro.

Para Cléber, a iniciativa de fundar o Instituto é "importante para acompanhar o desenvolvimento da tecnologia e as formas como ela pode ser utilizada, afetando nosso trabalho e nossos direitos".

Abaixo, publicamos um resumo dos debates na Conferência.

Cléber e Ciro durante a Conferência (Arquivo Sintrajud)
Cléber e Ciro durante a Conferência (Arquivo Sintrajud)

Professor Ladislau Dowbor, da PUC-SP, apontou que a IA é uma força irrefreável, que precisa ser assimilada sem deixar que a tecnologia subjugue a população e a classe trabalhadora. Para isso, um dos questionamentos fundamentais é sobre o domínio dos dados mundiais pelas big techs. "As tecnologias vão se desenvolvendo muito mais rapidamente do que a nossa capacidade de nos reorganizarmos para transformá-las em algo socialmente útil. Porque inicialmente elas sempre são apropriadas por quem tem mais grana. É preciso reapropriar esse processo pela sociedade e tornar todas as taecnologias úteis, porque elas realmente facilitam [a vida]".

Soberania digital e política

A cientista da computação e programadora Nina da Hora explicou que “ChatCPT, reconhecimento facial e ferramentas de moderação de conteúdo são coisas muito diferentes. O ChatGPT, a IA generativa, não foi pensada do ponto de vista técnico para substituir ninguém, porque ela só pode fazer determinadas tarefas. Mas foi apresentado ao público como uma ferramenta em que você pode criar texto, criar imagem, criar artigo, escrever trabalho, fazer prova, ler, resumir, fazer e-mail. Aí você internaliza esse sentimento de substituição”. A especialista explicou que a IA foi desenvolvida para sintetizar conhecimento que o trabalho humano produz.

Nina lembrou que um dos projetos que está em debate no Congresso Nacional é sobre a regulação da inteligência artificial, e que os trabalhadores e seus sindicatos não estão sendo chamados a participar deste debate. “O que é discutido nessas audiências públicas [realizadas pelo parlamento] é justamente as decisões e riscos ligados ao trabalho, só que não está sendo escutado quem está vivendo isso na prática”, alertou.

Sérgio Amadeu, professor da UFABC e integrante do Comitê Gestor da Internet no Brasil, destacou que a IA não é o aplicativo instalado no celular. “O que se chama inteligência artificial é uma gigantesca infraestrutura que reúne bases de dados imensas. Computadores, roteadores, placas, processadores, cabos, conexões, instalações descomunais e muito, muito trabalho humano”.
E que a verdadeira natureza do que a sociedade convencionou denominar IA são máquinas treinadas por pessoas para usar alta capacidade estatística para organizar padrões de respostas de forma automatizada, aumentando também a produtividade. Sérgio ressaltou ainda que os modelos hoje conhecidos não são os únicos possíveis, e que é preciso “transformar a nossa cultura coletiva em inteligência”. O pesquisador encerrou sua fala lembrando que sem soberania digital e de dados não haverá soberania nacional.

Também foi destacado no evento a importância de aprovar uma regulamentação para uso da IA com perspectiva social e que assegure a soberania nacional, não deixando o país nas mãos das big techs que exploram mundialmente as ferramentas da inteligência artificial. O Brasil tem capacidade técnica em suas universidades e centros de pesquisa para produção de tais tecnologias, sendo necessários investimentos e a retirada das amarras do arcabouço fiscal ao avanço científico.

Impactos no mundo do trabalho

Ricardo Antunes, professor da Unicamp e um dos maiores especialistas em relações do trabalho no país, frisou que “o pulo do gato” das grandes plataformas foi se autodenominarem como prestadoras de serviços para contratar uma massa imensa de desempregados e não pagar direitos. “Os primeiros saltos de automação e robotização foram na década de 1970 e 1980 nos países capitalistas centrais, mas depois o capital deu um salto com a expansão tecnoinformacional digital, que com os algoritmos da inteligência artificial chegou ao fundo do poço. Porque a IA não é um mal em si, a tecnologia não é uma conquista nefasta da humanidade”, lembrou. “Só que o capital do nosso tempo é o mais destruidor de toda a era do capital desde o seu início”, resumiu. 

No que foi completado pela também professora da Unicamp e da Unifesp Luci Praun. “Discutir a soberania de dados também passa por entender o impacto que essas mudanças têm tido no mundo do trabalho”, afirmou. A pesquisadora lembrou também que mais do que gerar desemprego, as novas tecnologias têm gerado a expansão do subemprego.