‘Patrocinador’ da reforma administrativa, Hugo Motta tem chefe de gabinete com procuração para sacar salários de assessores
Por: Hélcio Duarte Filho

Na ocasião, a pressa chamou a atenção. Quando anunciou, no dia 11 de abril de 2025, que criaria um Grupo de Trabalho cuja missão seria elaborar e apresentar uma proposta completa de ‘reforma’ administrativa, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos/PB), mencionou duas datas: disse querer ver o trabalho do colegiado concluído antes do recesso de julho e a matéria aprovada em Plenário este ano - o que colocaria o feito entre os possíveis recordes de rapidez na tramitação de emendas constitucionais.
Pouco mais de quatro meses depois, um escândalo divulgado pelo portal "Metrópoles" coloca o parlamentar num lugar eticamente difícil de administrar e explicar: Hugo Motta mantém como chefe de gabinete uma funcionária detentora de procurações que a autorizam a movimentar, sem restrições, as contas bancárias e os respectivos salários de pelo menos dez assessores, dois deles ainda atuando no mandato.
Segundo a reportagem do ‘Metrópoles’, a chefe de gabinete, Ivanadja Velloso, está com Motta desde 2011, quando ele foi eleito pela primeira vez para a Câmara. Ivanadja também foi acusada pelo Ministério Público de comandar um esquema de ‘rachadinha’ para um outro parlamentar, o deputado Wilson Santiago (também do Republicanos/PB).
As entidades e movimentos sindicais e políticos que contestam a reforma administrativa, entre eles o Sintrajud, afirmam há um bom tempo que a proposta é uma potencial fábrica de rachadinhas. Uma linha de montagem na qual trabalhadoras e trabalhadores não concursados, sem estabilidade e sem direitos, muitas vezes são taxados para poder trabalhar e não ser demitidos.
Até o momento, os salários desses dez assessores, sem estabilidade e contratados sem concurso, somam R$ 4 milhões. Dinheiro que, segundo a denúncia, a chefe nomeada por Hugo Motta para o seu gabinete tinha livre acesso.
O Caseiro
Para complicar a situação ética de Motta e colocar ainda mais em xeque a pretensa obsessão pela ‘modernização’ da gestão dos serviços públicos, a 'Folha de São Paulo' publicou outra denúncia de associação inevitável com o modo de gerir pessoal. O patrocinador político da reforma administrativa e criador do Grupo de Trabalho, sobre o qual detém total controle, empregaria desde 2019 em seu gabinete a mesma pessoa que é caseiro em sua fazenda, em Serraria, na Paraíba. Detalhe: o cargo de assessor exige dedicação exclusiva e a jornada é de 40 horas, ao custo de R$7.200,00 saídos mensalmente dos cofres públicos.
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Em meio às recentes denúncias, representantes das entidades sindicais do funcionalismo público federal, estadual e municipal, entre elas o Sintrajud e a Fenajufe, participaram de um seminário, simultaneamente presencial, em Brasília, e por videoconferência, organizado pelo Fórum dos Servidores Federais (Fonasefe), nos dias 15 e 16 de agosto.
O objetivo central do seminário “Reforma Administrativa: destruição dos Serviços Públicos e dos Direitos dos/as servidores/as” foi organizar a luta para impedir que essa ‘reforma’, que já está sendo chamada de ‘reforma’ da rachadinha e do atraso, siga adiante.
Os debates desenvolvidos no evento estão disponíveis em vídeo, no Canal do Fonasefe no Youtube.
Para assistir aos debates do dia 15 (sexta-feira), acessar aqui
Para assistir às atividades do seminário deste sábado (16), acesse aqui
Acompanhe, nas plataformas do Sintrajud, a continuidade da cobertura do seminário e da luta contra a reforma administrativa.