01/08/2025

Tarifaço de Trump pode impactar salários, empregos, inflação e segurança alimentar

Por: Luciana Araujo
Ataques imperialistas estimulados por "denúncias" do clã Bolsonaro envolvem disputa entre Estados Unidos e outras potências no domínio do sistema mundial de Estados e relações econômicas e estratégicas.
Ouça a matéria

Às vésperas da entrada em vigor prevista para este dia 1º de agosto, o governo de Donald Trump adiou para o próximo dia 06 o tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras. O decreto das taxações assinado na última quarta-feira (30 de julho) também lista de 700 produtos fundamentais para a economia estadunidense que não vão ser afetados pela taxação: aeronaves e componentes; celulose; agrotóxicos e fertilizantes; e derivados de laranja, petróleo, gás natural, carvão, ferro, aço, alumínio e cobre.

As medidas anunciadas pelo governo Trump foram estimuladas pelo clã Bolsonaro em sua cruzada para evitar a condenação de Jair Messias e filhos pela trama e ações para execução da tentativa de golpe pós eleição de 2022 e depredação das sedes dos Três Poderes em 08 de janeiro de 2023. Mas a sociedade gestão Trump-Bolsonaro mascara interesses econômicos dos Estados Unidos na disputa imperialista com a China (para onde o Brasil mais exporta e de onde mais importa), Alemanha (terceiro país do qual o Brasil mais importa) e Rússia (quinto lugar no ranking nacional de importações).

No parlamento estadunidense, de maioria alinhada a Trump, o projeto de lei de ações de inteligência para 2026, que estabelece o financiamento da CIA e NSA (respectivamente a Agência Central de Inteligência e a Agência de Segurança Nacional daquele país, nas siglas em inglês) aponta entre as metas desses órgãos “investigar o interesse chinês no agronegócio brasileiro, revelou o jornal ‘Valor Econômico neste dia 30.

O tarifaço e a ofensiva para deslegitimar as medidas legais de responsabilização dos envolvidos na tentativa de golpe do dia 08 de janeiro de 2023 são parte também de uma articulação internacional que a extrema direita vem consolidando desde o começo dos anos 2000 e tem eleito muitos governantes e parlamentares mundo afora. E fazem lembrar os tempos de Guerra Fria ou o bloqueio econômico que desde 1961 os EUA impõem à ilha de Cuba.

Até mesmo parte do capital e da mídia nacional, que embalaram a eleição de Bolsonaro, já começa a se manifestar diante dos impactos econômicos das sanções impostas por Trump. A ‘Folha de S.Paulo’ classificou Eduardo Bolsonaro — o filho que abandonou o mandato de deputado federal por São Paulo para viver nos EUA e articular contra o país — de “inimigo do Brasil” em editorial também deste dia 30.

Recolonização
Além das sanções econômicas, Trump também vem atacando as instituições nacionais — que são muito limitadas na efetivação de uma democracia real para toda a população brasileira, especialmente suas camadas mais pobres e negra, mas não são assunto de outra Nação.

Em editorial publicado nesta quinta-feira (31 de agosto) a revista britânica ‘The Economist’ classifica como “um ataque sem precedentes” ao Judiciário brasileiro a escalada de pressões e sanções que vêm sendo impostas pela Casa Branca.

A publicação refere-se especificamente ao uso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes da chamada Lei Magnitsky — que autoriza o Poder Executivo estadunidense a impor sanções a pessoas que vivem fora do território norte-americano mas têm ativos naquele país, em razão de acusações de corrupção ou violação de direitos humanos. Até a publicação deste texto, todas as decisões de Moraes, ainda que possam ser questionadas, foram chanceladas pelo colegiado do STF e seguem o ordenamento jurídico em vigor. Além disso, não há acusações formais ao ministro, que em brincadeira do ex-presidente Jair Bolsonaro durante depoimento sobre o processo do golpe foi até convidado a ocupar candidatura a vice-presidente junto com ele nas eleições do ano que vem.

O ministro do STF anunciou que não tem bens nem contas nos Estados Unidos, onde o bloqueio trumpista valeria.

Segunda independência
Na avaliação da diretora do Sintrajud, o Governo deveria aplicar a lei de reciprocidade recém aprovada, buscar outos parceiros comerciais e não ceder a chantagem imperialista que vai custar caro a classe trabalhadora. A alta da inflação, desemprego e ameaças à segurança alimentar da população já são os primeiros efeitos previstos se as medidas de Trump se efetivarem.

A central sindical à qual o Sintrajud é filiado (CSP-Conlutas) também defende o uso de instrumentos como quebra de patentes, proibição de remessa de lucros de empresas em território nacional para os Estados Unidos e a suspensão do pagamento da dívida pública com investidores daquele país. Confira clicando aqui a nota da Central.